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Foto do escritorCarlota Nogueira

COLUNA | Emocionada, sim!



Imagem: Acervo Urbano

Tenho tido muito receio na hora de me comunicar, hoje tudo que a gente fala tem um peso e eu venho sentindo isso há muito tempo. Acontece que sou geminiana e é da minha natureza a comunicação e as palavras, e eu desde sempre entendi que a gente perde muito quando deixa de expressar os nossos sentimentos, viver calada é viver reprimida e isso por aqui é inconcebível.


Nestes tempos modernos onde um emogi subentende qualquer coisa, ficou quase impossível uma comunicação clara. A pessoa que você gosta, por exemplo, manda um coração ou um foguinho no direct ou watts faz você entender uma coisa e na verdade ela só queria dizer “legal” e ser agradável e você que lute pra não achar que aquilo quer dizer amor, saudade, ou outra coisa.


Então, partindo da ideia que preciso ser clara e de que odeio ser subentendida, desde um bom tempo eu venho fazendo questão de dizer e demonstrar meu sentimento para as pessoas, mesmo que isso me coloque em um lugar arriscado. Eu acredito que deve ser aterrorizante viver enclausurado num mundo só seu por medo de dizer: Obrigado, Eu te amo, estava com saudade, fique mais um pouco, você é importante, você tá bonita, você é especial, gosto de você por isso ou por aquilo e também não gosto quando você faz isso ou aquilo. É necessário que a gente fale dos nossos sentimentos e não é errado demonstrar isso, nunca foi.


Veja bem estou falando se sentimentos, não de opnião, essa só devemos dar quando nos é permitido e mesmo assim de forma afetuosa para não ferir e nem magoar o outro.


Expressar verbalmente os sentimentos é importantíssimo quando falamos de vínculos amorosos, familiares, profissionais e de amizade. Isso facilita muita coisa, e além disso, por mais simples que pareça, é muito comum que as pessoas apresentem dificuldade em compreender e expressar seus sentimentos e a gente sabe que existem diversos motivos para isso, entre eles estão o medo, a timidez, e as pressões sociais que um determinado indivíduo pode vir a sofrer. Eu acho que quando expressamos o que pensamos isso nos liberta e a gente tira um peso que futuramente pode gerar um estresse, um desânimo, uma ansiedade, uma irritação e uma tristeza. Uma vez que, corpo e mente funcionam como um só, e as consequências de guardar pra si os sentimentos passam pela saúde física da pessoa também.


Eu falo, sou de falar e muitas vezes sou bem mal interpretada, é fato, mas corro o risco não deixo de falar, porque acho importante que você saiba o que eu sinto, o que outro faz com o que eu entrego é problema dele.


Dia desses, disse a uma pessoa que quero bem que eu o amava, e isso se deu por termos afinidades em gosto musical, no papo, nos amigos em comum, é muito comum eu dizer eu te amo para as pessoas que eu gosto e a resposta foi: calma, não se emocione que entre nós não vai rolar nada. Eu achei aquilo tão grosseiro, porque eu só queria dizer que aquilo era uma maneira de dizer que gostava da pessoa dele, não era um pedido de casamento, mas entendi que os homens nem sempre entendem afeto, ou nunca entende sem associar amor a sexo. Era como se eu tivesse ali dando mole e ele me dando um fora. Fiquei com tanto abuso que deixei me afastei, se ele não entendeu isso que dirá se aprofundássemos outros sentimentos.


Eu sei que pode parecer confuso, mas a gente também tem que aprender a ouvir e se não entender, perguntar: o que você está querendo dizer com isso? E eu explicaria.


Outra vez estava trabalhando num festival que era especificamente LGBTQIAP+ e uma mulher muito bonita chegou, eu, educadamente me aproximei para cumprimentá-la e oferecer ajuda e disse: Oi tudo bem? Que linda você é. E ao final do atendimento eu fechei com um abraço e a frase: Além de linda, ainda é cheirosíssima, divirta-se gatona. Fui honesta e sincera como faço com minhas amigas e esta mulher depois de dias apareceu no meu direct achando que eu estava dando em cima dela. Novamente veio a falta de entendimento e percepção e eu acho que isso se dá pela falta do hábito das pessoas receberem carinho e de não estarem acostumados a trocar palavras gentis e afetuosas.


Não trocar gentilezas, amor e afeto por medo de criar vínculos com as pessoas, mas gostar quando ouve e recebe é um erro! Para muitas pessoas, falar sobre sentimentos é sinal de fragilidade, e isso nos torna vulneráveis e é aí onde mora o perigo, porque é a partir do medo da vulnerabilidade que criam-se tabus como “homem não chora”, nocivos a todas relações e construções humanas, já que o bem-estar de cada um também depende da capacidade de expressão dos sentimentos e emoções que nos constituem.


Demonstrar sentimentos é uma habilidade social imprescindível e o desenvolve outras competências, como a empatia, a socialização, o autocontrole e a afetividade. Não tenham medo de falar e demonstrar, a vida é muito curta, a pessoa se vai e você nem falou pra ela o que queria e isso vale pras coisas boas e ruins, porque daria tempo até do outro rever suas ações e mudar a sua percepção em relação a ele.


Então não estranhe quando eu encontrar vocês e der um abraço, beijo e demonstrar sentimento, falar o que sinto e desejo, aprendi a duras penas o que é ser rejeitada, violentada e mal compreendida e decidi que nunca mais, me permito passar pela vida das pessoas sem ser amor, boa lembrança, abraço e sorriso. E se você sentir algo com relação a mim também fale eu vou adorar saber. Demonstre agora! Eu to aqui fazendo a minha parte e se isso for ser uma pessoa emocionada já tenho a carteirinha de sócia desse clube há tempos.


Sobre a autora

Carla Nogueira (47), mais conhecida como Carlota, escreve as Quintas sobre comportamento na intenção de tornar todas as mulheres livres e sem medo. Carla é formada em gestão de pessoas, tem MBA em gestão humanística de pessoas, é multicriativa e fundadora do Estúdio Carlota Coletivo Afetivo, com um histórico de 6 anos potencializado a arte, a cultura e as pequenas marcas com grandes ideias. Notívaga, livre, baliza sua vida nas boas perguntas e boas respostas feitas ao redor de uma memorável cerveja gelada.

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