As prateleiras das livrarias estão cheias de manuais que prontamente nos ensinarão a jogar o jogo do amor. É cartilha pra cá, regras pra lá, estratégias de batalha prontas por R$19,90, títulos que variam do “Como conquistar em 10 passos” até “Impressione sua sogra com excelentes receitas de forno”. Todos vendendo a mesma coisa, sucesso no amor e um ticket para um clube mais que privado, o dos compromissados.
Não se pode apostar fichas no amor e fazer os dados rolarem sem que antes as regras básicas sejam de nosso conhecimento e domínio. Não transar nos primeiros encontros, não falar dos exs namorados, escolher o melhor restaurante para o date, não mostrar-se interessado demais e agir com um certo desdém à aquela possibilidade de futuro feliz a sua frente. São baitas desafios, mas, supostamente garantidores do happy and.
Todo mundo que já caminhou pelo tabuleiro do amor teve contato em algum momento com uma dessas regras, siga o manual e avance três casas, não há casualidade, reveses, particularidades, basta que os protocolos sejam cumpridos que o jogo será vencido, simples assim. Na falta de conhecimento das regras percebo que há uma que precede todas, não agir com naturalidade, porque no amor não deve haver naturalidade.
Mas, nada é assim tão simples no mundo da sedução. Se regras fossem garantidoras de amor e felicidade como costumam ser vendidas nas livrarias e recontadas nas rodas de amigos, não haveriam tantos solteiros e solteiras infelizes por terem perdido a partida. Tudo isso porque não há como prever as vontades, desejos, sonhos do outro. Estamos, quando interessados em alguém, lidando com a individualidade de uma pessoa que não pensa necessariamente como nós, que talvez não deseje o mesmo. E essa é a graça do amor, ser variante, até inconstante, desafiador e nem um pouco estático.
É chegada a hora de se libertar dessas fórmulas fabricadas para se alcançar e viver as relações. Por mais lógica que faça a regra de não transar no segundo encontro – para alguma de nossas particularidades – veja apenas como uma coisa que pode parecer lógica, e só, depois faça o que desejar, o que seria natural. Isso vale para aquele ambicionado telefonema para dizer duas palavras de carinho, para propor um programa diferente, para decidir a hora de formalizar o compromisso ou simplesmente para evitar a sogra e jogar no lixo o livro “Impressione sua sogra com excelentes receitas de forno”. Não compensa preservar vontades por medo ou por culpa. Não compensa ficar imobilizado pelas regras enquanto se teme as consequências. Faça o que tem de ser feito, esqueça as regras.
Se amor é realmente um jogo ganha aquele que trapaceia, que joga com naturalidade, que rasga os manuais, que guarda os dados, que apenas aposta as fichas esperando e vivendo o melhor. Sem medo de voltar três casas ou parar uma rodada. No amor vence aquele que vive o acaso, a descoberta. Que vive o incerto sem covardia, abrindo mão das seguranças e garantias. Vence no amor quem não blefa.
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